domingo, 28 de novembro de 2010

A seita Daime




Sobre a seita Daime - Resumo de "No caminho das estrelas” In: Queda Livre, O. Frias Filho.


O texto descreve as experiências de um admirador da cultura do Daime, que vai em busca de respostas sobre a misteriosa seita pela Floresta Amazônica. Para ele, esta trata-se de um “inferno” absurdamente quente e habitado por uma legião de insetos. O destino final é Vila Mapiá, distante cerca de cinqüenta quilômetros da Boca do Acre. Ali habita uma interessante seita nativa, a Seita Daime, que se distigue pelo seu principal sacramento, a ingestão de uma bebida de gosto muito ruim e de difícil comparação, feito a base de plantas amazônicas que alteram a percepção psicológica.

O Santo Daime ficou famoso no final da década de 80, quando se soube que alguns artistas eram adeptos ao credo. Algum tempo depois, surgiram denúncias horripilantes sobre a religião como manipulação de menores, indução ao suicídio, emprego de anfetaminas e entre outras coisas horrendas. Dez anos depois, após algumas denúncias, a religião tornou-se mais misteriosa pelo fato dos artistas desgostosos com a seita não se pronunciarem mais sobre o assunto; entretanto a serenidade ostentada pelos fiéis, assim como o brilho presente no tom de pele e o brilho nos olhos funcionavam como combustível para a curiosidade sobre esta seita, que já possui sedes espalhadas pelas principais cidades do Brasil e até em alguns lugares no mundo.



A viagem era grande e a neurose em equipamentos para a proteção do aventureiro também, mas no fundo ele sabia que estes possuíam maior valor psicológico confortante a ele do que utilidade mesmo. Com o tempo esse pavor foi se atenuando, e o aventureiro foi vendo que a floresta não era tão apavorante quanto estava idelizada em sua mente, e assim a preocupação passou a focar-se em seu contato com o líder da seita.

A seita do Santo Daime após ter se tornado “mal falada”, tornou-se algo muito secreto e de difícil acesso, afirmando que o seu primeiro contato com a bebida sagrada foi difícil de ser obtido, pois como dito por um dos montes da doutrina “O Daime é para todos, mas nem todos são para o Daime”. Por isso o Daime apesar de possuir alguns efeitos colaterais, desperta grande interesse de muitos gerando muitas expectativas a respeito dos efeitos psicológicos durante e pós-efeito da bebida sagrada.



Surpreendido pela presença do famoso cartunista Glauco Vila Boas como guru em um dos cinco pontos mantidos pelo Daime na periferia da cidade de São Paulo, Céu Maria, deparou-se com uma estrutura precária e uma vista exuberante da metrópole. Todos se encontravam vestidos de acordo com sexo, estado civil e cargo no clã, no qual eram separados em grupos, então ao som de hinários, cantados a plenos pulmões de maneira vivaz, o Daime é tomado de hora em hora em um templo. O templo bem precário se encontra cheio de “fardados”, fiéis que passaram pela cerimônia da doutrina, o local fica parecendo com um sabá de bruxos, um congresso de maçonaria, formado por pessoas de diversas idades, etnias e aparentes classes sociais diferentes, então ali em um quarto a bebida sagrada é tomada.

Com seu primeiro encontro aparentemente decepcionante, por não ter sentido todas aquelas alucinações afirmadas por muitos, calculou que as substâncias talvez estivessem menos diluídas na beberagem. Entretanto ao chegar em casa vomitou muito, e após se alimentar e beber muita água, dormiu bem tarde, porém acordou cedo e com uma estranha disposição invejável. Decide assim ter sua segunda experiência, as sensações e decepções foram aparentemente iguais, entretanto o gosto pelos hinos, lembrados ao poucos ao longo do dia lhe chamam a atenção, e então decide conhecer Mapiá.

Alguns dias antes de sua viagem, o autor resolve fazer sua terceira e displicente visita ao Céu Maria, sentindo-se desta vez como se fosse um membro honorário da casa. Entretanto, desta vez foi diferente, obteve muitas alucinações descritas como sendo uma “fresta” que o Santo Daime lhe permitira espiar, onde ele relata sua sensação dizendo : “ Vejo - para ser mais exato –imagino ver - cenas corriqueiras de infância sucedendo-se tão depressa que , ao contemplar a seguinte, já esquecera a anterior; depois vi as constelações mais próximas à medida que me afastava numa trajetória espiralada até ter, diante dos olhos, a galáxia inteira.”



O fuso que vigora no Vale do Mapiá não existe em nenhum outro lugar no mundo, pois enquanto em Rio Branco são dez horas, são onze em Manaus, em Apiá o relógio marca dez e meia, e esta peculiaridade é vangloriada pelos mapienses. A vila é habitada por cerca de mil pessoas e se encontra ao longo igarapé menor, um afluente do rio Purus.

O Daime foi criado no final dos anos de 1950 e revê como seu fundador o Mestre José Gabriel da Costa, que era um seringueiro que havia travado contato com o chá sagrado, e então decidiu criar um credo sob forte influência do espiritismo. E assim esse credo foi se expandindo e caindo no gosto de muitas pessoas de diferentes etnias e classes sociais, tornando o Daime um credo famoso com vários pontos distribuídos pelo Brasil e com alguns pontos do mundo como Madrid, Tóquio, Amsterdã, Estados Unidos e outras cidades estrangeiras.



O símbolo da doutrina daimista é uma estrela-de-davi com uma águia e meia lua no interior. Sendo que eles consideram possível ser católico, judeu ou muçulmano e daimista ao mesmo tempo, já que o chá é considerado apenas um veiculo de acesso às mais variadas percepções da divindade, o Santo Daime em tudo se soma.

Finalmente o autor prova do Santo Daime de Mapiá um uma cerimônia de casamento, onde relata ter ingerido quatro ou cinco copos. Passa a noite tranquilamente, ao contrário de muitos que vomitavam desenfreadamente e até pessoas que incorporavam espíritos, sendo que ao questionar o Padrinho ouve que o Daime da região é mais fino, sem que ele deixasse claro se o produto era de melhor qualidade ou se era capaz de surtir efeitos sutis.

Algo que chama bastante a atenção do autor são as condições precárias de Mapiá, onde reinam ainda doenças precárias como o tétano, malária, plasmodium e outros. Quase todas as pessoas de Mapiá já foram vitimas de malárias, muitos mais de uma vez e algumas até mais de trinta vezes.



A cultura do Daime segundo o autor é muito mais do que uma droga que causa alucinações, não se restringe de maneira alguma aos efeitos bioquímicos da droga no córtex cerebral. Trata-se de uma viagem para fora da realidade exterior, é como sonhar acordado, realiza-se uma viagem mental e espiritual de difícil descrição para tantos sentimentos e sensações.

Assim como qualquer outra religião ou seita, o Daime apresenta alguns depoimentos de fanáticos suicidas e de relatos negativos para a imagem da seita. Como qualquer religião, no Daime as pessoas também buscam refúgio e uma anestesia da realidade insuportável que nos conforte e distraia com o “silêncio eterno desses espaços infinitos”.




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