O que é identidade?
Já vimos que nos satisfazer com a concepção de que se trata da resposta dada à pergunta “quem sou eu?” é pouco, é insatisfatório. Ela capta o aspecto representacional da noção de identidade, mas deixa de lado seus aspectos constitutivo, de produção, bem como as implicações recíprocas destes dois aspectos.
Dizer que a identidade de uma pessoa é um fenômeno social e não natural é aceitável pela grande maioria dos cientistas sociais. Antes de nascer, o nascituro já é representado como filho de alguém e essa representação prévia o constitui efetivamente, objetivamente, como “filho”. Posteriormente, essa representação é assimilada de tal forma que seu processo interno de representação é incorporado na sua objetividade social como filho daquela família.
Na medida em que é pressuposta a identificação da criança como filho que os comportamentos vão ocorrer, caracterizando a relação paterno-filial. A identidade do filho, se de um lado é conseqüência das relações que se dão, de outro é uma condição dessas relações.
Cada posição do indivíduo o determina, fazendo com que sua existência concreta seja a unidade da multiplicidade, que se realiza pelo desenvolvimento dessas determinações. Em cada momento de sua existência manifesta-se uma parte do indivíduo como desdobramento das múltiplas determinações a que ele está sujeito.
Este jogo de reflexões múltiplas que estrutura as relações sociais é mantida pela atividade dos indivíduos, de tal forma que é licito dizer-se que as identidades, no seu conjunto, refletem a estrutura social ao mesmo tempo em que reagem sobre ela conservando-a ou a transformando.
Nem anjo, nem besta: apenas homem
A noção tradicional que se tem de identidade, ou seja, “o que é, é”; “um ser é idêntico a ele mesmo”: isso decorreria da necessidade para ser de ser o que é.
“O ser, ser o que é “ implica o seu desenvolvimento concreto; a superação dialética da contradição que opõe Um e Outro fazendo devir um outro, outro que é Um que contem ambos .
“O que é para o ser humano ser o que é? O movimento do social, o qual constitui a História: ela é a progressiva e continua hominização do Homem, a partir do momento em que este, diferenciando-se do animal, produz suas condições de existência, produzindo-se a si mesmo consequentemente.
O existir humanamente não está garantido de antemão, nem é uma mudança que se dá naturalmente – exatamente porque o homem é histórico.
Uma alternativa impossível é o homem deixar de ser social e histórico; ele não seria homem absolutamente. Outra possibilidade é deixar de ser também um animal, consequentemente, submetido às condições dessa sua natureza orgânica. Contudo não pode ser só animal (dada sua natureza social e histórica).
Nem anjo, nem besta, o homem é homem, como uma afirmação da materialidade continua e progressiva hominização do homem.
O fato de vivermos sob o capitalismo e a complexidade crescente da sociedade moderna impedem-nos de ser verdadeiramente sujeitos. A tendência geral do capitalismo é constituir o homem como mero suporte do capital, que o determina, negando-o enquanto homem, já que se torna algo coisificado.
O verdadeiro problema de identidade do homem moderno: a cisão, entre o individuo e a sociedade, que faz com que cada individuo não reconheça o outro como ser humano e, consequentemente, não se reconheça a si próprio como humano.
Texto de referência: CIAMPA, A. C. Identidade, In: Lane, S.T.M. et Codo, W. (orgs.) Psicologia Social: o homem em movimento, São Paulo, Ed. Brasiliense, 1989.
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